Another article from Gracie Mag, this time in BJJ's mother tongue:
Romero Jacaré: “Foi o ano mais difícil da minha vida”
Líder da Alliance revê 2009 e brinda o leitor com relato precioso sobre os tempos românticos do Jiu-Jitsu
“Quando recebi o telefonema do Luca Atalla para me dar os parabéns pelo meu aniversário de 57 anos, me bateu um flashback desses cerca de 30 anos de estrada – desde quando comecei nos anos 70 na famosa academia Carlson Gracie, em cima da Casa Gebara, em Copacabana, com professor Tuninho, instrutor até os dias de hoje.
“Foi ali que comecei de verdade a me apaixonar pelo Jiu-Jitsu, e a ter certeza de era o que faria pelo resto da minha vida. O Jiu Jitsu não era tão badalado como hoje, não tinha campeonato brasileiro, Pan ou Mundial. O Jiu-Jitsu no Rio se dividia entre zona sul e zona norte.
“No nosso lado da cidade, as melhores de longe eram as academias Gracie, João Alberto e Álvaro Barreto, e Osvaldo Alves, enquanto no outro lado da cidade destacavam-se a Kioto do Mansor, o Monir, e a Oriente de Niterói do prof. Amélio Arruda, uma figura doce e educada que sempre trazia adversários ferozes nas competições,
“Pelas regras da época, valia chave de calcanhar e bate-estaca – sim, era complicado, um erro nosso na defesa e a luta estava perdida, revanche só no outro ano, pois não tinha competição toda hora como é hoje.
“Lembro que uma vez tomei um bate-estaca numa final de Carioca e passei uns bons meses sem poder treinar, Ah, vacilo! Cresci o olho no braço da guarda e tome! – fui acordar depois.
“Nesses 30 anos pude presenciar o desenvolvimento da nossa arte, talvez o esporte de luta que mais cresceu no mundo. Hoje é uma epidemia mundial, com academias presentes nos quatro cantos do mundo.
“Formei muitos professores e alunos bons, participei de todas as competições desde a década de 70, e me orgulho de ter participado dessa história, primeiro com a academia Jacaré, depois Master e agora a Alliance.
“Sei que minha missão está sendo cumprida, sempre converso com o meu saudoso Mestre Rolls e pergunto a ele: ‘Está satisfeito agora? Você saiu cedo da festa mas estamos aqui até hoje para fazê-lo feliz.’
“E ele me responde: ‘Caro Jacaré, isso não é nem o começo, ainda chegaremos muito mais longe’. E vou dormir contente, por saber que estamos fazendo um bom serviço e continuando o que ele começou.
“Foi em 1989 que graduei o meu primeiro faixa-preta, o Fabio Gurgel, em Ipanema, onde tive a minha primeira academia.
“Ele sem dúvidas vem fazendo um trabalho extraordinário e se hoje temos filiais na América do Sul e Norte, Europa e Ásia, e continuamos unidos, devo muito a ele, que sempre acreditou que poderíamos nos reerguer depois de tudo que passamos. Hoje estamos onde estamos graças a ele, ao Gigi Paiva e a outros que mantém a Alliance como uma força do Jiu-Jitsu mundial.
Jacaré e Fabio vibram no Mundial. Foto de Alicia Anthony.
“Este ano de 2009 está sendo o mais difícil da minha vida, pois passei por momentos dos quais pensei que não sairia. Depois de um treino na academia senti uma dor danada no peito, fui ao hospital e acordei com quatro pontes de safena. Mas, sempre pensava, não está na hora de partir, ainda tenho muito a fazer.
“Quando Renzo Gracie me ligou um dia, e eu estava fraco até pra falar, ele me dizia do outro lado da linha, com seu humor e positividade caracteríscos: ‘Campeão, força! Você vai sair dessa, já passamos por sufocos maiores, isso não é nada. E eu o imaginava na minha frente com aquele sorriso de vencedor, de que não tem tempo ruim, e pensava que claro, eu ia sair dessa.
“Saí, e pude presenciar um grande 2009 para a equipe, que depois de alguns anos com resultados modestos voltou ao topo, conquistando por dois anos seguidos os principais torneios Grand Slam do Jiu-Jitsu – mais uma prova de que sem hierarquia, união e comando não se vai a lugar nenhum.
“As expectativas pra 2010 são as melhores possíveis, tentaremos ganhar todos os principais campeonatos: o Europeu, Pan, Mundial e Brasileiro. Se vamos conseguir não sei, mas seremos os principais protagonistas, sempre respeitando as outras equipes.
Em 2009, tivemos nos campeonatos muitas alegrias e algumas tristezas, com nossa principais estrelas brilhando muito: Cobrinha ganhou o tetra mundial e o tri no Pan, o Marcelinho voltou em grande estilo ganhando o Mundial pela terceira vez, Langhi se consagrou, nossas meninas Luanna e Gabi colecionaram medalhas e tantos outros, de todas as faixas, que não caberiam todos aqui.
E esperávamos ganhar mais, como em Abu Dhabi, mas paciência: do outro lado também há grandes atletas. Cobrinha e Marcelinho perderam duas delas mas não têm nada por que se abater. Somos muitos orgulhosos deles e temos certeza de que todo bom guerreiro sabe dar a volta por cima. Ganhar e perder faz parte da vida do atleta – e eles já estão trabalhando pensando nisso.
Para encerrar, sucesso a todos e a comunidade do Jiu-Jitsu continue fazendo sua parte em prol deste esporte maravilhoso, para quando, um dia, reencontrarmos nossos eternos mestres, Carlos, Helio, Rolls e Carlson, possamos perguntar: onde fica a academia?”
Romero “Jacaré” Cavalcanti
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